terça-feira, 28 de agosto de 2007

Vovô

Eu acordei...meus pés estavam gelados como de costume. Sentei na beira da cama, depois de um bom espreguição, daqueles que sempre pensamos, “hum... porquê não faço isso todo dia..?”
Fui ao banheiro, passei pelo corredor longínquo rodeado de portas, agora menos temeroso, pois já era dia.
Lavei minhas mãos e meu rosto na água gelada.-sempre tive rejeição a águas quentes, mesmo em ambientes geograficamente frios.- e fui correndo lá pra fora, claro, de pijama, -se não, não haveria tanta graça!- procurar os ovinhos! Sim. Era Páscoa.
Um jardim verde cor de arco-íris, com flores lilás que rodeavam a sua entrada e o cheiro de serra, de planta molhada ainda do último sereno. Quando penso nisso, vêem o cheiro de cachorro quente que vinha da cozinha e as vozes de minha Mãe, tias e vó, gritando: “Sai do sereno gente!” “Olha, o cachorro tá pronto, vai esfriar!!”.. Enquanto eu e meus primos ficávamos lá fora de noite, em um frio congelante, brincando de ver sair fumaçinha de nossas bocas...
Ô época boa. E pra não fazer valer meu rótulo de esquecida, não posso deixar de contar de quem era a diretoria de entretenimento do domingo de páscoa da família Ivens: Vovô Roberto.Ivens Claro.
Ah..ele sim sabia viver, tinha o dom de encantar seus netos com ovinhos espalhados por todo o sítio de Terê, ele dizia alto- com o sorriso de sempre em seu rosto, aquele sorriso de avô mesmo, que dá um pouco de medo, mas aí rapidamente, vc vê que é seu avô e que ele te quer bem. E aceita.- “Ta frio! Tá quente, ta fervendo!”...E quando os achávamos, compartilhava de nossa alegria e dançava muito parecido com o Charles Chaplin naqueles filmes antigos. Era muito engraçado!
E ai, entrávamos na casa, cada um com seus ovos, e trocávamos pedaços, para provarmos todos os sabores e ainda, os brindes - os meus, sempre ficavam para os menores – nunca fui apegada a coisas materiais.- Mas havia brigas por eles, eu sempre acabava chamando alguma mãe ou tia.. é, neste caso, a minha vó nunca resolveria.

Priscilla, neta mais velha, filha da caçula de seis irmãos. É, meu pai pegou minha mãe de jeito.
Mas não reclamo.Gostei de participar da juventude da minha mãe e do meu pai, vinte anos de diferença para a minha geradora é no mínino, delicioso.
Nos dias seguintes a páscoa, continuávamos a comer, comer e comer, por isso com oito anos eu era uma bolinha.
Um agravante para meu formato circular, chegou quando eu conheci meu padastro que veio com um “cardápio” com 1001 maneiras de se comer pão.Imagina...pão já é gostoso só com manteiga!

Vovô merece ser lembrado em tantas outras datas, mas essa lembrança da minha infância, foi uma das mais bonitas que eu tenho, eu, meus primos e vovô correndo pelo jardim de Terê- sim, ele era velho, mas era flexível!- a expectativa de achar meus ovinhos, o acordar desse dia.

E mesmo depois de abril, podia ser em qualquer mês de qualquer ano, ele sempre tinha uma barra de chocolate no quarto, e eu constantemente ia lá e pedia, “vô, tem um chocolatinho ai?” E ele sorria e respondia “acho que tem!” Ou então às vezes ria igual um personagem de desenho animado do qual não me lembro o nome agora, que ria com a mão na boca, como se estivesse fazendo besteira..nossa era muito divertido!”.

Advogado e psicólogo, pai de seis filhos, avô de 12 netos - minha mãe lhe dando três, sempre na frente – Vovô morreu assim, do nada, depois de uma operação no coração marcada, sem grandes riscos, que foi realizada com sucesso. Os médicos disseram que surgiram coágulos que foram para o cérebro.
Lembro-me da última coisa que ele me perguntou..
Abri a geladeira, só não sei se era pra realmente comer algo, ou só pra abrir a geladeira mesmo, e ele entrou na cozinha. Olhou pra mim e disse, “vc está bem? E os namoradinhos?” Ele nunca tinha me perguntado algo assim, ainda mais quando estávamos a sós, em uma hora do dia em que eu estava só de passagem.
Ri e respondi que estava tudo bem. Não me senti envergonhada, não me senti estranha. Me senti muito feliz. Ele se preocupava comigo, mais do que eu pensava.

E lembro também de quando ele sentava do lado de minha irmã, agora do meio, mas na época ela tinha uns 6 anos e ficavam os dois lendo as enciclopédias ilustrativas, e ele ensinando à ela, que por sua vez, não tirava o olho dele e da enciclopédia. Ela adorava saber curiosidades sobre os animais mais estranhos e ouvir as histórias que vovô contava sobre o mundo, seguidas de suas imitações dos bichinhos.

Eu, olhando do sofá, sorria. Como minha irmã crescera nesses momentos.

Sonhei com ele várias vezes depois de sua morte. Ele sempre apareceu sorrindo. Teve uma vez em que falei com ele, e em outro sonho, ele enxergava tudo. Disse: “Não precisa acender a luz!”, depois do meu pedido à minha vó para acender a luz para que ele pudesse nos ver.
Quando era vivo, um amigo jogou uma pedra brincando na rua, e esta caiu sobre o olho direito dele, e ele ficou parcialmente cego dessa vista.
Mas Roberto Ivens continuou a vida sem ajuda de ninguém, não era difícil ouvir uma Brincadeira de algum amigo dizendo que, na verdade, ele enxergava tudinho, que a cegueira era mentira dele!
Ia pro rio e voltava, pra Terê e voltava, de ônibus, sem bengala!
Era novo! Um coroa novo! Dançava como ninguém nos Natais e nos aniversários de família!
Ele era pura alegria, puro avô.

Abril foi o mês em que ele faleceu.
E o que significa falecer, se não a importância que se dá a essa palavra. Para mim, ele está aqui, comigo.



13 de março de 2007

sábado, 25 de agosto de 2007

Tá!

Sentei.Não me atrevi a escrever nada que impressionasse.Sabia que esperariam uma boa obra inaugural, mas minha pouca experiência de vida me dizia que eu iria melhorar com o tempo, portanto, definitivamente, aquele não seria o meu melhor escrito.

Então, sem culpa, desgarrei de minha culpa e vi que já estava bom.
Pensei que pra começar prestaria.

Enfim..